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A tecnologia acessível é uma ferramenta transformadora para pessoas com deficiência visual, auditiva ou motora. Quando bem aplicada, ela quebra barreiras, abre oportunidades educacionais, laborais e pessoais. No Brasil, embora haja avanços normativos e alguns dispositivos de ponta, ainda há desafios de custo, distribuição, conhecimento e implementação local.
Neste guia, vamos aprofundar em:
Dispositivos e gadgets já disponíveis no Brasil ou que possam ser importados adaptadamente
Comparativos de preços e tecnologia acessível
Softwares gratuitos ou de baixo custo
Regulamentações e incentivos nacionais (leis, normas da ABNT, Anatel etc.)
Perspectivas reais de usuários
Guias práticos para comprar/adaptar
Regulamentações e incentivos no Brasil
Para que a tecnologia acessível seja adotada em larga escala, é fundamental que o arcabouço legal e normativo favoreça isso. Alguns pontos-chave:
Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) – institui os direitos das pessoas com deficiência, determina acessibilidade, inclusive digital. (Gov.br)
Normas ABNT para acessibilidade digital
A nova norma ABNT NBR 17225 – Acessibilidade Web lançada em março de 2025 descreve requisitos para sites, aplicações web, alinhada às WCAG 2.2. (CTA)
Norma ABNT NBR 17060 – Acessibilidade em aplicativos de dispositivos móveis, publicada em 2022. (Ceweb.br)
Regulamentação da Anatel – o Regulamento Geral de Acessibilidade (RGA) define exigências para telecomunicações, serviços públicos e privados relacionados. (Regulamentação Acessibilidade)
Incentivos públicos ou políticas de governo digital – por exemplo, que órgãos públicos federais adotem normas de acessibilidade digital para seus sites e sistemas. (Gov.br)
Essas normas são essenciais para garantir que uma tecnologia acessível não seja exceção, mas sim parte estrutural do design de produtos, serviços digitais, dispositivos físicos.
Gadgets e adaptações: o que há no Brasil, custos, comparativos
Vou dividir por tipo de deficiência: visual, auditiva, motora.
Deficiência Visual
Dispositivos / gadgets mais comuns:
Leitores de tela (screen readers): NVDA (gratuito, código aberto), DOSVOX (sistema brasileiro, voltado para cegos e baixa visão) etc. (Prefeitura de Curitiba)
Ampliadores de tela ou software de zoom em computadores ou smartphones.
Dispositivos de OCR + leitura por voz: aplicativos ou gadgets que reconhecem texto impresso ou digital e convertem para fala.
Óculos inteligentes “falantes” ou de realidade aumentada: existem no Brasil iniciativas com óculos que leem placas, descrevem ambientes. Um exemplo: “óculos falantes” importados, usados em bibliotecas no estado de São Paulo, custando cerca de R$ 14.000 cada. (Estadão MT)
Dispositivos como OrCam MyEye, que permitem leitura de texto, identificação de objetos/personas — nota: custo elevado, mas com financiamentos ou linhas de crédito para tecnologia assistiva. (VEJA)
Custos típicos / comparativos:
Leitores de tela gratuitos: NVDA, Orca, DOSVOX — custo zero ou baixíssimo para instalação e uso básico.
Óculos falantes: ~R$ 14.000 cada no Brasil. (Estadão MT)
OrCam MyEye: R$ 14.900 no Brasil. (VEJA)
Deficiência Auditiva
Dispositivos / gadgets / adaptações:
Aparelhos auditivos (próteses): modelos variam de básico a topo de linha com conexão Bluetooth, redução de ruído, recarregáveis etc.
Sistema de Frequência Modulada (FM): microfone + transmissor + receptor para melhorar o sinal de fala em ambientes com ruído ou distância. (Wikipédia)
Aplicativos/traduções em Libras (Língua Brasileira de Sinais): Hand Talk, VLibras etc. (Tecnologias Assistivas)
Custos típicos / comparativos:
Aparelhos auditivos básicos: segundo clínicas, entre R$ 1.500 a R$ 3.000 por unidade; intermediários entre R$ 4.000 a R$ 8.000 ou mais; modelos premium ou importados chegam a R$ 15.000 ou mais. (AUDITIF)
Exemplos reais: tabela de preços de aparelhos auditivos em 2025, onde um par pode variar bastante dependendo da marca, grau de surdez e tecnologia. (Crônicas da surdez)
Deficiência Motora
Dispositivos / adaptações comuns:
Mouses especiais como trackballs, joysticks adaptados, mouse de cabeça (“head mouse”) ou teclado operado por cabeça ou boca. (WPT)
Sistemas de rastreamento ocular (“eye-tracking”) para controlar o computador ou dispositivos quando há limitação motora das mãos/bracos. (WPT)
Tecnologias de automação doméstica adaptada: controle de luzes, portas, ventilação, etc., via voz ou assistente doméstico compatível.
Impressão 3D para adaptar objetos físicos (pegadores, suportes, extensões etc.), customização de peças assistivas.
Custos / comparativos:
Muitas dessas adaptações envolvem um custo moderado se baseadas em componentes eletrônicos simples ou projetos de makers/impressão 3D — porém, produtos de empresas especializadas sob medida tendem a ter preço elevado.
O custo de dispositivos avançados como exoesqueletos ou robótica assistiva ainda é muito alto no Brasil e pouco disponível.
Guia prático para comprar e adaptar
Aqui vão passos e dicas para quem quer adquirir ou adaptar gadgets para uma tecnologia acessível:
Avaliação das necessidades individuais
Identificar o tipo de deficiência (visual, auditiva, motora) e o grau.
Verificar os ambientes de uso (em casa, trabalho, instituições, rua) para saber exigências de portabilidade, resistência, conectividade.
Pesquisar funcionalidades essenciais
Para deficiência visual: contraste de telas, voz em português, leitura de tela compatível, reconhecimento de objetos/texto, mobilidade do dispositivo.
Para deficiência auditiva: redução de ruído, Bluetooth, conexão com telefone/smartphone, regulagem.
Para motora: entrada alternativa (voz, cabeça, olhos), controles acessíveis, robustez física.
Verificar suporte local e manutenção
Garantia, assistência técnica nacional ou regional.
Disponibilidade de pilhas ou baterias recarregáveis.
Acompanhamento profissional (fonoaudiólogo, terapeuta, técnico especializado).
Comparar custo total
Custo do gadget propriamente dito + acessórios + manutenção + transporte/aduana se for importado.
Explorar opções de financiamento ou subsídio de tecnologia assistiva, quando disponíveis.
Verificar se há cobertura via SUS ou programas do governo para certas próteses auditivas ou auxílios visuais.
Testar se possível antes de comprar
Uso demonstrativo, período de teste.
Verificar se existe política de devolução/reembolso.
Adaptação do ambiente
Não basta ter dispositivo: cadeiras, mesas, software, layout do espaço precisam ser adaptados.
Treinamento para os usuários e seus familiares, para uso efetivo da tecnologia acessível.
Perspectivas de usuários reais
Usuários de aparelhos auditivos reclamam do alto custo, manutenção e substituição. Muitos optam por modelos básicos ou importados, mas enfrentam problemas de assistência ou peças.
Pessoas com deficiência visual relatam que leitores de tela gratuitos (NVDA, DOSVOX) fizeram diferença enorme, mas que falta suporte em português e naturalidade de voz; por isso, vozes como “Letícia”, sintetizadas em português, são valorizadas. (Agência Brasil)
Estudantes usarão óculos falantes em bibliotecas ou escolas públicas: há relatos de uso, mas não é comum ainda em escala ampla, por causa do custo. (Estadão MT)
Desafios principais
Custo elevado de dispositivos sofisticados ou importados.
Desigualdade de acesso: regiões menos centrais têm menos oferta de assistência técnica, recursos para importar ou financiar.
Conhecimento técnico insuficiente de profissionais ou de desenvolvedores de software para integrar tecnologia acessível nos projetos desde o início.
Legislação ainda pouco aplicada em muitos casos, fiscalização e cumprimento de normas é lento.
Exemplos de regulamentações em ação
A ABNT NBR 17225:2025 (Acessibilidade Web) vai tornar obrigatório para órgãos do Executivo Federal adotar normas de acessibilidade digital. (Ministério da Gestão)
Expansão de normas para aplicativos móveis (NBR 17060). (Ceweb.br)
Resolução da Anatel e RGA para telecomunicações, exigindo acessibilidade em serviços regulados. (Agência de Nacional de Telecomunicações)
O que falta para ampliação da tecnologia acessível no Brasil
Políticas públicas específicas de subsídio ou reembolso para aquisição de tecnologia assistiva, para que tecnologia acessível deixe de ser privilégio.
Desenvolvimento local (projetos nacionais, startups, makers) para reduzir custos, aumentar adaptação ao contexto brasileiro.
Educação e treinamento: para desenvolvedores, designers, arquitetos, professores; inclusão da acessibilidade na formação.
Fiscalização efetiva do cumprimento das normas ABNT e da LBI; incentivos para empresas que integrem tecnologia acessível em seus produtos.
Conclusão
Tecnologia acessível já é uma necessidade urgente e também uma oportunidade de inclusão. Para pessoas com deficiência visual, auditiva ou motora, gadgets e adaptações bem escolhidos transformam qualidade de vida e autonomia. Com normas como ABNT NBR 17225, regulamentações da Anatel, oferta de leitores de tela gratuitos, e iniciativas de dispositivos avançados — tudo isso caminha para um cenário melhor. Mas para que a tecnologia acessível deixe de ser exceção, é preciso combinar legislação, mercado, educação e participação de usuários.
Veja também
Se quiser saber mais sobre acessibilidade em jogos (que conversamos antes), confira meu post: Acessibilidade em Jogos: As Tecnologias que Estão Revolucionando a Cultura Geek.