Nos últimos anos, um conceito dominou Hollywood, plataformas de streaming e quadrinhos: os universos compartilhados. Essa estratégia de interligar múltiplas histórias, personagens e franquias dentro de uma mesma narrativa coesa se consolidou como uma das principais tendências da indústria do entretenimento moderno. Mas a pergunta que permanece é: esse modelo é uma fórmula mágica de sucesso ou um risco criativo que ameaça a diversidade e originalidade do conteúdo?
Neste post, vamos analisar o crescimento e impacto dos universos compartilhados, os benefícios e armadilhas dessa abordagem e como ela afeta o engajamento do público e a produção de conteúdo.
Conteúdo
ToggleO Que São Universos Compartilhados?
Um universo compartilhado é um conjunto de histórias e personagens distintos que coexistem dentro de um mesmo contexto narrativo. Isso significa que eventos em uma série ou filme podem ter repercussões em outros, mesmo que os protagonistas ou a ambientação sejam diferentes.
O exemplo mais icônico é o Marvel Cinematic Universe (MCU), iniciado oficialmente com Homem de Ferro (2008), que pavimentou o caminho para mais de 30 filmes e séries interconectadas.
Outros exemplos de universos compartilhados incluem:
DC Extended Universe (DCEU)
MonsterVerse (com Godzilla e King Kong)
The Conjuring Universe (invocando o terror em múltiplas tramas interligadas)
Star Wars Universe (que se expandiu para além da trilogia original com spin-offs e séries como The Mandalorian)
As Vantagens dos Universos Compartilhados
1. Engajamento Duradouro
A maior força de um universo compartilhado está no seu potencial de manter o público engajado por anos, ou até décadas. Fãs investem emocionalmente nos personagens e desejam acompanhar cada capítulo do enredo, o que gera:
Mais bilheteria e audiência.
Consumo de produtos licenciados.
Comunidades online engajadas, como fóruns, fanfics e canais de YouTube dedicados.
Segundo a Harvard Business Review, a estratégia de “narrativas em rede” (como os universos compartilhados) aumenta a lealdade do consumidor ao criar múltiplos pontos de entrada para a marca 1.
2. Monetização Diversificada
Cada novo personagem ou núcleo pode gerar:
Spin-offs de filmes e séries.
Jogos, HQs e livros adaptados.
Produtos licenciados (camisetas, bonecos, jogos de tabuleiro).
A Disney, dona da Marvel e Star Wars, explora esse modelo em múltiplas plataformas, transformando cada franquia em um império multimídia 2.
3. Exploração Profunda de Personagens
Universos compartilhados permitem desenvolver personagens secundários que ganham protagonismo próprio. Por exemplo:
Wanda Maximoff, de coadjuvante em Vingadores, ganhou destaque em WandaVision.
Peacemaker, vilão cômico em The Suicide Squad, virou protagonista de sua própria série aclamada.
Os Riscos Criativos dos Universos Compartilhados
Apesar do sucesso, esse modelo também traz desafios que podem comprometer a qualidade e originalidade do conteúdo.
1. Dependência de Continuidade
Narrativas interligadas exigem coesão extrema. Um erro de continuidade pode gerar críticas ferozes. Isso limita a liberdade criativa de roteiristas e diretores, que precisam alinhar cada detalhe a um “cânone”.
Como relatado pela Variety, diretores têm enfrentado dificuldades para inovar dentro desses sistemas rigidamente estruturados 3.
2. Fadiga de Conteúdo
O excesso de títulos interligados pode esgotar o público. Muitos fãs sentem-se sobrecarregados com a necessidade de assistir a dezenas de produções para entender um enredo central.
Essa “fadiga de super-heróis” tem sido apontada como um dos fatores para a queda recente nas bilheterias de filmes da Marvel e DC, conforme analisado pela The Guardian 4.
3. Saturação do Mercado
A estratégia tem sido copiada por muitos estúdios, o que resultou em projetos mal planejados, como o fracassado “Dark Universe” da Universal, que deveria unir clássicos do terror como Drácula e A Múmia — mas foi cancelado após o primeiro filme.
Casos de Sucesso: O Modelo Bem Executado
Marvel Cinematic Universe (MCU)
Sem dúvida, o MCU é o maior exemplo de sucesso. Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, estruturou um planejamento de mais de 10 anos com uma “saga cinematográfica” dividida em fases.
Com Vingadores: Ultimato (2019), o estúdio quebrou recordes de bilheteria, ultrapassando US$ 2,7 bilhões e consolidando a força do modelo 5.
Star Wars Universe na Era Disney
Após a compra da Lucasfilm, a Disney expandiu Star Wars com spin-offs e séries como:
The Mandalorian
Andor
Obi-Wan Kenobi
O universo foi revitalizado com tramas paralelas e personagens inéditos, resgatando o interesse dos fãs antigos e atraindo novos públicos.
Casos de Alerta: Quando o Modelo Falha
DCEU – DC Extended Universe
Apesar de contar com heróis populares como Batman, Superman e Mulher-Maravilha, o DCEU enfrentou problemas de coesão, mudanças de direção criativa e decisões apressadas.
O reboot anunciado por James Gunn em 2023 tenta corrigir o rumo com uma nova visão do universo DC 6.
MonsterVerse
Embora Godzilla vs. Kong tenha sido um sucesso moderado, a proposta de universo ainda luta para manter uma base fiel de fãs, dependendo fortemente de efeitos especiais em detrimento da construção de personagens.
Universos Compartilhados Fora do Cinema
A ideia de universos compartilhados não se limita ao cinema e à TV:
Games: O universo de Assassin’s Creed e League of Legends cria conexões entre personagens, épocas e spin-offs narrativos.
Literatura Geek: Autores como Brandon Sanderson usam o conceito no “Cosmere”, onde diferentes livros compartilham um mesmo universo.
Streaming: A Netflix expandiu seu “universo da Rua do Medo” e a Amazon com The Boys e seus spin-offs como Gen V.
A Opinião dos Fãs: Amor ou Cansaço?
Em fóruns como Reddit e plataformas como Rotten Tomatoes, há debates constantes sobre se os universos compartilhados são um presente ou um peso.
Fãs hardcore gostam da interligação e recompensas narrativas. Já espectadores casuais, por vezes, se perdem no excesso de informações e demandam produções mais “autocontidas”.
A Screen Rant publicou um levantamento mostrando que séries isoladas com início, meio e fim têm tido mais aceitação crítica em 2024/2025 7.
Conclusão: Modelo de Sucesso ou Risco Criativo?
A resposta é: depende da execução. Universos compartilhados funcionam quando bem planejados, com equilíbrio entre continuidade e inovação. Porém, o modelo é frágil quando usado apenas como ferramenta de marketing ou explorado em excesso.
Estúdios e criadores precisam se perguntar: queremos construir uma grande mitologia… ou estamos apenas tentando emular um sucesso alheio?
Link Interno Relevante
Para ver como os universos compartilhados impactam os maiores eventos da cultura pop, veja nosso post completo sobre os maiores anúncios e trailers da San Diego Comic-Con 2025, onde franquias interligadas dominaram os holofotes com novidades arrebatadoras.