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Os games são espaços de diversão, aprendizado e conexão. No entanto, também podem ser palco de atitudes negativas, preconceitos e hostilidade. Este cenário levanta uma pergunta cada vez mais discutida na indústria: será que o design dos jogos pode influenciar o comportamento tóxico nos games?
Neste artigo, vamos explorar em profundidade como certas decisões de game design — especialmente em gêneros como MOBAs e FPS competitivos — podem fomentar interações tóxicas. Também vamos mostrar boas práticas, exemplos de mudanças positivas e o que jogadores, desenvolvedores e comunidades podem fazer para combater esse problema.
O que é comportamento tóxico nos games?
Antes de avançarmos, é importante definir o conceito. O comportamento tóxico nos games refere-se a atitudes e práticas nocivas dentro de ambientes virtuais, como:
Ofensas verbais no chat;
Assédio de jogadores iniciantes ou de minorias;
Feeding intencional, ou seja, prejudicar propositalmente o próprio time;
AFK (away from keyboard) como sabotagem;
Uso de hacks ou trapaças para desestabilizar o jogo;
Xenofobia, machismo, homofobia e racismo.
Essas atitudes podem transformar experiências de lazer em situações estressantes, afastando novatos e minando a saúde da comunidade.
Game design: o vilão oculto?
A estrutura de um jogo, suas regras, sistemas de recompensa e canais de comunicação podem incentivar ou desencorajar o comportamento tóxico nos games. Vamos entender como isso acontece.
1. Sistemas altamente competitivos e ranqueados
Jogos como League of Legends, Dota 2 e Valorant utilizam sistemas de ranqueamento que colocam jogadores em constante disputa por posição.
Impacto:
A busca por vitórias a qualquer custo, somada à pressão de pontuações públicas, pode levar ao estresse, frustração e externalização agressiva desses sentimentos.
Segundo pesquisa da MIT Game Lab, jogos com recompensas baseadas exclusivamente em vitórias tendem a aumentar níveis de hostilidade entre jogadores.
2. Falta de consequências claras
Em muitos jogos, jogadores que praticam comportamentos abusivos raramente são punidos de forma eficaz ou rápida. Isso normaliza a toxicidade.
Exemplo:
Durante anos, o Overwatch enfrentou críticas por sua demora em punir infratores, mesmo com múltiplos reports.
Solução possível:
Melhorar sistemas de moderação automática, criar feedback imediato para quem reporta e promover transparência nas sanções.
3. Comunicação aberta e não filtrada
Chats de texto e voz sem moderação são verdadeiros campos de batalha. Jogos que não oferecem filtros de linguagem, opções de silenciamento ou controle parental tendem a ser mais tóxicos.
Estudo da ADL (Anti-Defamation League) revela que mais de 70% dos jogadores já sofreram assédio verbal em jogos online com chat de voz.
4. Falta de incentivo à cooperação
Quando o design de um jogo favorece o desempenho individual ao invés do coletivo, os jogadores tendem a culpar uns aos outros em vez de colaborar.
Exemplo:
Em Call of Duty: Warzone, a ausência de objetivos cooperativos claros entre squadmates pode gerar tensão.
Solução possível:
Implementar sistemas de conquista em grupo, missões colaborativas e mecânicas de suporte valorizadas.
5. Design visual e representação de minorias
A ausência de personagens diversos, ou o reforço de estereótipos, contribui para a exclusão e marginalização de certos grupos — o que alimenta comportamento tóxico nos games.
Caso emblemático:
Personagens hipersexualizados em MMOs ou representações racistas em jogos de luta já foram amplamente criticadas.
Ação necessária:
Adotar designs inclusivos, representações diversas e campanhas de conscientização dentro do próprio jogo.
Quando o game design combate o comportamento tóxico
Agora, vejamos exemplos positivos de como o game design pode ajudar a reduzir a toxicidade:
🛠️ League of Legends (Riot Games)
A Riot investiu em sistemas como o Honor, que recompensa atitudes positivas, e em replays de comportamento tóxico que permitem análises mais precisas.
Leia sobre o sistema de conduta do LoL aqui.
🛡️ Final Fantasy XIV (Square Enix)
Com regras estritas de convivência e comunicação limitada em dungeons, o jogo minimiza a toxicidade e promove empatia entre jogadores.
🔄 Among Us
O design social baseado na dedução cria tensão, mas a mecânica de punição por “voto” limita ofensas diretas. Com moderação ativa, o jogo conseguiu manter comunidades saudáveis por um bom tempo.
Game design e psicologia do jogador
A psicologia por trás do comportamento tóxico nos games pode ser explicada por fatores como:
Anomia: sensação de impunidade por estar no anonimato;
Teoria da frustração-agressão: perder ou não atingir objetivos gera raiva;
Desumanização do outro: ver o oponente apenas como obstáculo.
Cabe ao design humanizar o ambiente, promovendo conexões e empatia.
Ferramentas de moderação e controle
Para ajudar no combate ao comportamento tóxico nos games, desenvolvedores podem incluir:
Chat com filtro de palavras ofensivas;
Opção de “modo seguro” com limitação de interações;
Inteligência artificial para identificar padrões abusivos;
Banimentos progressivos e feedback automático para reports;
Recompensas para jogadores educados e colaborativos.
O uso de IA, inclusive, tem sido explorado por empresas como a Unity e Microsoft, para automatizar ações contra discurso de ódio em jogos.
E o papel do jogador?
O jogador também é parte da solução. Algumas atitudes que ajudam:
Reportar comportamentos abusivos sempre que possível;
Apoiar jogos que promovem inclusão;
Evitar entrar em embates tóxicos;
Criar conteúdo positivo nas redes sociais e fóruns;
Incentivar amigos a respeitar a diversidade.
A indústria precisa de políticas mais firmes
Para além do design individual, a indústria como um todo precisa se posicionar. Boas práticas incluem:
Códigos de conduta públicos;
Campanhas educativas (como o projeto “Good Game Well Played” da ESL);
Parcerias com ONGs de combate ao preconceito e bullying;
Iniciativas de diversidade dentro das empresas desenvolvedoras.
Links úteis para se aprofundar
Links internos para aprofundar no DGeek
✅ Inclusão e Acessibilidade nos Games: Como Tornar os Jogos Mais Abertos a Todos
🤖 Segurança Digital para Gamers 2025: Como Proteger Seus Dados em Plataformas Online
🎲 7 Maneiras Incríveis Como a Inteligência Artificial Está Revolucionando os Games
Esses conteúdos complementam o tema do comportamento tóxico nos games com debates sobre inclusão, tecnologia e ética.
Conclusão
O comportamento tóxico nos games não é fruto apenas da atitude dos jogadores, mas também de sistemas que reforçam a competitividade extrema, a impunidade e a desumanização. Com mudanças inteligentes no game design, é possível criar ambientes mais seguros, saudáveis e colaborativos.
Desenvolvedores precisam olhar para além do entretenimento e pensar no impacto social que seus jogos promovem. Jogadores, por sua vez, devem ser parte ativa dessa transformação.
Mais do que nunca, é hora de jogarmos juntos — com respeito e empatia.